domingo, 17 de outubro de 2010

Hector e Sr. Fox - Parte 9 ou Cozinhando com Amélia

Hector estava a duas semanas na cidade grande e o máximo que havia feito era coco 26 vezes. Sim essa era sua obra máxima e mais importante naquele momento.

Mas o telefone tocou diferente naquela quinta feira, uma voz gelada e histérica do outro lado deu a notícia, casting em 40 minutos. Mas pera lá! O garoto não conseguiria se preparar tão bem, fazer toda a análise em frente ao espelho identificando os angulos bons e ruins daquele dia, não conseguiria depilar se fosse necessário, ou sequer cortar o cabelo.

Só que a conta bancária e a tia gritavam, então ele foi, e foi correndo. A gelada histérica garantiu que não haveria algum problema, que era um casting simples e que o "pessoal" da produção havia "adorado" seu composite (tudo com aspas) Aham, acredito sim! Mas o Hector bananão acreditou e foi correndo. Tomou um banho rápido, esquecendo inclusive de lavar debaixo do braço esquerdo. Mas afinal era quinta de manhã, havia tomado banho no outro dia de noite, ele estava limpinho (o suficiente).

Colocou uma roupa como a voz falou, camiseta branca e jeans. Segurou a mochila pela alça enquanto passava correndo com uma banana na mão, e foi o suficiente pra ela pegar impulso e voar pras costas dele, num movimento finamente calculado e bem sucedido (a mochila, não a banana). Saindo pela porta só conseguiu escutar o telefone tocando de novo e sua tia atendendo, e enquanto mastigava o último pedaço de banana constatou que o toque do telefone estava mesmo diferente, mas era porque alguém havia trocado. Fechou a porta e entrou no elevador.

Segurou a casca de banana por 8 minutos até encontrar uma lixeira que fosse possível se aproximar sem desviar do trajeto mental que estava matutando. Chegou na estação de metro, passou o bilhete, pensou em S.h., rodou a catraca, entrou com passos firmes enquanto olhava o vagão que se aproximava, pensou no Sr. Fox, colocou um fone de ouvido. Fitou a porta por um tempo descomunal de 10 segundos e assim que ela abriu, entrou.

Sentou no vagão semi vazio (ou semi cheio, depende do ângulo) e ficou tentando ler todas as assinaturas dos vidros em volta, a mais antiga tinha 3 anos e a mais nova ainda nem estava totalmente pronta. Chegou na paulista, os prédios enormes em volta, como grandes colunas de um céu ainda inacabado. Colocou o outro fone, neutralizando o barulho da rua um pouco e continuou andando.

Chegou no prédio do número indicado, entrou no saguão e anunciou seu nome, mas descobriu que seu nome não estava autorizado pro casting. Na verdade eles nem faziam ideia de quem era o Hector. Isso só serviu pra deixar ele ainda mais perdido, e assim que a loira da recepção garantiu pela oitava vez, bufando, que não estava autorizada a entrada, ele virou e foi em direção a porta. Fazer o que né? Mas antes de atingisse sua meta, uma voz gelada, mas não histérica, chamou ele. (na verdade a voz gritou "OOO garoto!" mas ele entendeu).

Não haviam muitos candidatos, e quanto mais gente melhor, ai o sujeito retomou o assunto, explicou que era um casting para a vaga de ajudante de uma apresentadora de grande fama (tá bom), que ele nem precisaria saber cozinhar, mas sim ajudar ela com o andamento do programa.

Ele não achou esquisito na hora, e topou fazer o teste. Mas no caminho em direção a sala de teste de câmera ele achou muito esquisito, porque uma apresentadora famosa precisaria de um ajudante pra conduzir o programa, e não pra cozinhar? Enfim, aconteceu.

Hector extremamente nervoso parou na frente da câmera, alguém lhe entregou um papel com algumas falas e pediu pra ele ler em voz alta. Hector questionou sobre qual a motivação, que tipo de entonação deveria usar e etc. O diretor nem se deu ao trabalho de responder e apontou pro canto da sala onde alguém (o mesmo que entregou o roteiro), estava de cócoras e respondeu de costas sem nem mesmo olhar pro diretor, como se já soubesse que iria sobrar pra ele:
- Então Hector, é Hector seu nome, certo?
Hector concordou com um balançar de cabeça, e nem se deu conta que o cara estava de costas e não iria ver a resposta. O cara então continuou:
- A apresentadora na verdade sabe tudo o que deve fazer, mas ela já está numa idade difícil, se é que você me entende. Ela as vezes se perde do roteiro, e como ela insiste em conversar com uma foto de pudim que tem no cenário, tivemos a ideia de fazer um novo personagem. O GRANDE PUDINZINHO. E é para essa vaga que estamos fazendo o casting. Agora você poderia ler, imaginando que é um pudim?

Hector se mijou de rir quando saiu dali, mas naquela hora continuou sério, e disse "CLARO" (dessa vez não balançou a cabeça).

Começou pela segunda frase pois teve vergonha da primeira: - Amélia, querida Mélinha, é pó soluvel e não soldivel.

O diretor nem pestanejou, e disse: - É isso meu garoto, procuramos alguém de boa aparência e que saiba entrar no personagem. O modo que você encheu a boca pra passar o aspecto fofo e de cremosidade do pudim me acertou em cheio. Maravilhoso trabalho.

Ahn?

Tá, agora Hector era o Sr. Pudim, fato que o levou diretamente a pensar no paradeiro do amigo, Sr. Fox.

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