domingo, 18 de julho de 2010

Hector e Sr. Fox - Manual de sobrevivência aos 22 ou parte 8

Abril de 2009, Hector não via o amigo a alguns anos e Sr Fox não poderia estar mais sumido. Mas como o próprio nome diz, esse capítulo trata mais de entender uma fase da vida, do que da amizade desses dois. Voltando ao que interessa, o aniversário.

Realmente a manhã do aniversário de 22 anos não deixou Hector muito confortável, muito menos feliz. Era um dia como qualquer outro, mas com um significado que agora o fazia pensar mais do que nas manhãs anteriores. 22 anos, okay, nada demais. Mas nessa idade meninos são pais, os pais estão cada vez mais longe (por opção) e a vida cada vez mais perto (por obrigação). Com ela as responsabilidades, as cobranças. Acabou a brincadeira, aliás a última brincadeira foi justamente a bebedeira na festa de formatura da faculdade, onde se formara com louvor.

Agora Hector, ainda rolando nos lençóis da cama pequena, pensava no futuro. Dormia sozinho, acordava sem ninguém, mas sonhava acompanhado. Mesmo sem saber. Cada criança que acorda e se descobre com 22 anos tem que prestar mais atenção ao trajeto, e acaba se questionando sobre o quase um quarto de século. Tudo isso pra se preparar pro próximo, antes da crise de meia idade.

Mas Hector não tinha essa consciência ainda, ele apenas rolava nos lençóis e não queria ficar de pé. Não queria atender o celular que tocava pela quinta vez, não queria alimentar o corpo magro. Não queria café com ovos e bacon, não queria pizza gelada. Acordou pensando em aveia.

Fato, o garoto acordou diferente, só não sabia disso ainda. Não queria ir pro escritório, a fábrica de fertilizantes parecia ainda mais monótona nesse dia. Afinal era seu aniversário. Ele ainda não sabia, mas o que sentia era um misto de medo dos erros do passado (poucos) e da antecipação da vida futura. Era uma agitação silenciosa.

Hector resolveu então descobrir o peito, e sentindo o ar gelado incomum praquela manhã, tirou o lençol de metade de seu corpo. Olhou pro teto por cerca de 5 minutos, sem pensar em nada, descobriu a outra metade em um movimento rápido e sentou. Encostou a planta dos pés no chão nem tão gelado, ficou de pé aos 22 anos. Deu um sorriso de canto de boca, sentiu orgulho do que vivera até ali.

Chegou no trabalho correndo e em menos de 40 minutos deixou o escritório, só com uma caixa de papelão cheia de papéis, que fez questão de apoiar no cesto de lixo e virar, deixando a caixa ali mesmo. Indo embora sem nada.

Juntou poucos pertences em uma mochila e foi pra rodoviária, era tempo de viajar. Saindo do interior foi pra cidade grande, onde muitos de seus amigos já estavam. Mas não se encontrou com nenhum deles, foi pra casa de sua tia. Viúva, sem herdeiros, e sistemática. Tudo que ele precisava, responsabilidade por mais que não parecesse ele tinha, com isso seguir ordens iria ser fácil. Amor ele não queria, então a fria preocupação da sua tia era exatamente o que ele precisava. Ela respeitava então sua individualidade e ele lhe fazia companhia.

Hector na adolescência chegou a fazer algumas fotos com S.h. então marcara agora uma entrevista em uma agência de modelos que encontrou na cidade grande, não era um sonho de infância, mas pensara que seria o suficiente pra se manter sozinho.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Alfa


Segunda
Terça
Quarto
Cama
Sexta
Cesto
Sexto
Sétimo
Setembro

Segundo
Terço
Quarta
Quinta
Sabático
Celibatário


segunda-feira, 5 de julho de 2010

Presente: dádiva minha.

Tento te escrever de forma pulsante, com sangue fresco, pensamento novo. Assim de face nua, olhar de início e fim e um sorriso sincero. Nada menos que isso. Quero o sabor de amanhecer de todo momento.

Quero agarrar toda nota de tempo da harmonia musical de todos os tempos. O passado, um tesouro perdido, que sem valor só vale a lembrança. O futuro, dádiva divina. E o presente, do qual me faço.

Faço-me inteira de instantes. Mas os instantes já mudaram, mudam numa respiração, num piscar de olhos. Sou caleidoscópio, mutação ambulante. Encho-me do agora para escrever-te e cavo a alma, cavo-a o máximo que consigo. A fim de achar o que motiva a escrever, amar e respirar. A fim de achar o sentimento fresco, pois fresca e jovem minha alma deve ser.

E quando morre o sentimento daquele instante fico, por uma fração de segundo, vazia, esqueleto sem vida. Até que outro pensamento me corrompe novamente. E de pensamento em pensamento eu faço o instante que me faz.

Escrevo-te caindo e caindo em mim, me amasso, me sufoco e de mim renasço em subproduto de mim mesma. Faço isso neste instante. Eu sou meu passado, presente e futuro. Sempre fui.

Nasço como nascem os instantes e da mesma forma morro. Não que me mate, mas simplesmente me uso e me acabo. Apago e acendo, apago e acendo, a todo instante apago e acendo. E essas alternâncias luminosas se transformam em sonoras. Notas que compõem o meu tempo, notas deste instante que gravo aqui. Vou me existindo no meu tempo conforme sou.