domingo, 31 de janeiro de 2010

Hector e Sr. Fox - Alcatéia ou parte 3

Não sei se era a lua cheia, ou o cheiro de dama da noite. Mas era certo que nessas noites Hector ficava ainda mais esquisito que o normal (se é que se poderia definir por normal algo vindo do Hector, mas naquela época eu ainda não sabia disso, talvez nem mesmo ele soubesse).

Mas enfim, o que vou contar vem de uma certa noite, numa certa localidade perto da casa do Sr. Fox.

Correndo pelo caminho de pequenos blocos de cimento, envoltos por toda aquela grama do majestoso (majestoso talvez não, mas certamente grandioso) jardim da casa dos Fox vinha Hector.

Os poucos minutos ofegante desviando dos pinheiros retorcidos pareceram uma eternidade. Hector estava acostumado a correr, mas não a ter seu coração tão acelerado assim. Precisava contar tudo para o Sr. Fox, e precisava disso rápido.

Sr. Fox dormindo não imaginava o que se passava a poucos metros dalí, na verdade não estava bem dormindo, estava sim era deitado. Sr. Fox não dorme bem desde pequeno e foram poucas as vezes que dormiu sozinho no escuro, mas conto melhor disso depois.

Hector tinha uma altura consideravel para seus 12 anos, e era o suficiente para se puxar pela mão na grade de plantas do muro principal e pular pra dentro do terreno do casarão. Descendo pela continuação da grade sem fazer alarde.

Não sei como explicar exatamente essa grade, era um desenho do estágiário de arquitetura Pedro, algo realmente interessante e com muitas linhas retas. Quadriculado com cerca de um metro de largura que começava na parte de dentro do muro, logo ao lado do portão da frente. Subia até o alto e continuava do outro lado até cerca de 1,80m do solo. O suficiente pro Hector num salto agarrar a ponta e com ajuda do pé na textura do muro, ter firmeza pra escalar.

Bom a grade ainda era nova, mas novos mesmo eram os sentimentos do garoto. Correndo pelas plantas no caminho de cimento chegou na janela do lado esquerdo, a janela de ****** (nessa época ele ainda chamava o Sr. Fox pelo primeiro nome algumas vezes, coisa que nos próximos 3 anos se extinguiria).

Parando quase derrapando, apoiando as mãos no joelho, respirou ofegante mais algumas vezes. Levantou a cabeça pro alto e mirando a lua começou a uivar. Sabia que o amigo não estava dormindo.

O primeiro uivo foi tímido, mas o segundo. Ah! O segundo deixou Hector famoso naquela residência. Toda janela e todo o telhado ouviram aquilo, mas foram apenas os objetos. As pessoas dormiam um sono profundo. O famigerado uivo começou baixinho, mas logo aumentou violentamente sua intensidade e trouxe de dentro toda a pressão de um sentimento.

3 horas da manhã, num pulo Sr. Fox saiu da cama e com uma coragem desmedida abriu a janela. Não fazia ideia o que estava acontecendo alí, e pior ainda quando viu o amigo num estado quase lunático uivando no jardim da frente. Jogou-lhe uma borracha e fez sinal para que fosse a porta dos fundos. Hector entrou pela cozinha e subiu a escada de serviço na ponta dos pés segurando vez ou outra na barra do pijama do companheiro da frente, como um animal assustado.

Hector vinha de seu primeiro encontro, com a menina mais linda da escola. S.h. (melhor não falar o nome) era mais velha, tinha 14 anos e era modelo. Eram raras as vezes que frequentava todos os dias as aulas, seu trabalho ajudava a mãe a sustentar ela e a irmã, seu pai morrera quando pequena e os estudos naquela escola chique eram custeados pelo seguro que ele havia feito meses antes de dar entrada no hospital.

A história de vida triste e a beleza irradiante, davam ao seu olhar uma espécie de brilho distante. Algo de um sentimento verdadeiro que não deveria caber em um simples olhar.

Mas nem a história de vida, nem o sentimento abundante em seus olhos fizeram com que Hector conseguisse de fato tocar-lhe os lábios. A beleza talvez lhe atraisse a isso mas a insegurança e ingenuidade lhe arrastavam pro lado oposto sem levantar dúvida sequer.

Ou seja, Hector sempre tão impulsivo com todos, tão pegajoso, tão galanteador. Travou em frente a menina que lhe segurava a mão. Ele só conseguia pensar que não seria capaz de fazer mal algum aquela pequena, que não queria decepcionar ela de forma alguma. Esse medo lhe congelava a alma e os movimentos. E impediu o tão esperado beijo.

Mas o que seria o beijo afinal, um simples encontro de bocas. O que valia era a intenção, e intenção era o que não faltava. O garoto queria proteger S.h. o tempo todo, frequentemente arranjava brigas na escola para honrar o nome da menina, partia pra cima de quem a ofendesse.

Como sabemos que uma grande beleza é carregada com uma grande inveja, ofensas eram comumente lançadas contra a menina. Além do trabalho pouco entendido pelas crianças do colégio, que frequentemente confundiam com outras coisas mais pesadas. Aumentando os petardos de inveja.

Hector era e continuaria a ser o protetor de S.h. , mas depois daquela noite, iria se manter mais distante. Mas sempre alerta.

O Sr. Fox ao saber de tudo aquilo apenas jogou duas almofadas no tapete alto do chão e disse:
- Dorme Hector, sua noite foi agitada, e invadir minha casa e uivar no jardim não ajuda em nada.

Sr Fox estava com sono, só poderia ser, nem um abraço, nem um conselho frio e certeiro naquela hora? Sono!

Hector já estava mais calmo, a adrenalina havia baixado. Naquela hora mil toneladas pesavam sobre os olhos e o tapete mais almofadas se mostraram um combo fantástico.

Recado 1 (recado velho, muito velho)

Metade de mim sente saudade. Metade sorri por ter você.

Hector e Sr. Fox - Prelúdio ou Parte 2

Então Hector disse:

- Pena o Sr. Fox ser tão novo, seria um grande pensador no século retrasado.

Sr. Fox é chamado assim não pela sua idade, mas pela forma de encarar a vida. Apenas 22 anos e já tão preocupado com o futuro da nação mundial. Seus amigos enchem-lhe o saco - "Sr. Fox nasceu aos 38 anos!" bradam. Mas Sr. Fox não se importa, conta-lhe a si mesmo os problemas e não espera solução.

Mesmo sem esperar essas frequentemente vêm.

Hector e Sr. Fox eram grandes amigos, é tudo que posso dizer-lhes por ora.

Sobre Vida e Alma, bem, elas aos 5 anos viram Hector pela primeira vez, seria uma paixão que as gêmeas só iriam revelar anos mais tarde.

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Mas voltando ao Sr. Fox, sujeito interessante. Bonito, simpático, inteligente e graças a deus, além desse pacote básico vinha a loucura. Senão seria um grande clichê, 22 anos e tudo isso. Impossível, ou melhor, improvável.

Sr. Fox vinha de família média, com riquezas muito mais inteligiveis do que tangiveis. Casa boa no centro da cidade, assobradada, 5 quartos, biblioteca e uma imensa cozinha. Mas nínguem comia naquela casa e poucos liam.

Os 4 irmãos constituiam-se por 2 irmãos mais velhos, Caio de 25 e Pedro de 30, e duas irmãs mais novas, Vida de 20 anos e Alma de 20 anos e 2 minutos. Era estranho mas frequente, elas vinham sempre nessa mesma ordem, primeira a Vida e depois a Alma, mesmo a segunda sendo a mais velha.

Já o nome verdadeiro do Sr. Fox muita gente não sabe, só era pronunciado dentro de casa, pelos seus pais em cólera.

Novamente, Sr. Fox seria um grande clichê ambulante se não fosse sua dosagem erudita de loucura.

Quanto ao Hector, bem, ele era seu melhor amigo, mesma idade, mesmo porte físico e mentalidade próxima, mas suficientemente distante pra tornar a amizade produtiva. Eram tidos por irmãos diversas vezes em restaurantes e barzinhos, mas também prefiro manter as informações sobre essa amizade num grau raso de profundidade, por enquanto.

Vejamos o que mais contar. Fizeram festas de aniversário juntos durante 3 anos, mas desistiram quando Hector, num golpe certeiro quebrou o óculos do amigo com um copo de creme de leite fresco. Agora como o creme de leite fresco foi parar dentro de um copo, no meio de uma festa num buffet, na mão de um menino de 15 anos, isso ninguém sabe.

Hector já experienciou a morte uma vez. Sua planta mais verdinha secou do dia pra noite. já o Sr. Fox o máximo que viu foram insetos caindo ao chão, durante o vôou da morte em torno de lâmpadas. Nisso não experienciou nada, na hora, semanas depois caiu no choro logo na véspera de seu 8º natal.

Hector é bobo, Sr. Fox é louco. Ambos gostam de animais.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Venais 3

Esse tempo em brasa anuncia que o céu, sem piedade do couro, tortura a alma. Que assim verás que és por dentre vós apenas nenhum, que sem forças desnuda nesse interim entre o começo e o épico. Que de prelúdio não conhece nada.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Osso

E se alguém dúvidar continua vivendo até o último cálcio de seu osso.

Vidinha

Hey vidinha vai tomar no cu,
eu te conheço desde a alma sei que você foi pro sul

E foi pro sul então aquecer seu coração,
mas eu sabia era mentira que teria o seu perdão.

Daí eu disse: Hey vidinha vai tomar no cu!

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Venais 2

Esse novo dia anuncia, sem piedade da alma, os mal tratos a esse pobre coitado. Que assim verás que és por dentre vós apenas mais um, que bravamente luta, nesse periodo de tempo entre o começo e o fim. Que de fim não conhece nada.


Venais

Esse céu em brasa anuncia que o tempo, sem piedade da alma, maltrata mais uma vez esse pedaço de couro. Que assim verás que és por dentre vós apenas mais um, que bravamente luta nesse interim entre o prelúdio e o épico. Que de épico não conhece nada.


domingo, 17 de janeiro de 2010

Combustível

E essa criatura detestável faz o que ao seu lado?
Expurga tal alma vil com olhos falsos de ternura.

- Não! Deixe-a aqui.

Ah! Como gosta de quem te ama?
Quem ama-te é vil e egoísta. O amor devor'alma, com tamanha avidez que só poderia ser naquilo que mais te odeia, o combustível.

Expurga tal alma vil, com olhos falsos de ternura.

breve prelúdio

Levanta-te defunto em vida.
Acorda e vai ver a vida, antes que a vida te veja, te perceba e te mate.
Como faz com tantos sonhadores.

Então deita-te e sonha, mas sonha pouco, e seja breve.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Invólucro humano

Ah! Os sentidos o que são, se não crédulos sensatos
sob os olhos vis de quem sem saber o que sente
sente em vida o fim de um amor perene.

E as emoções, rojões da alma em vida
que se já sem vida sobrevive, a cada senão
sem ter em seu invólucro humano algo de terno.

domingo, 10 de janeiro de 2010

fato 2

Ah! Se eu pudesse controlar metade do que sinto.

Alguém que te amou tanto que hoje sente constrangimento, por metade dos sentimentos.
Algo do passado.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Casa Valduga

Não tenho vida, não tenho ar. Só tenho vinho, e vinho acaba.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Janela

Não faz algum sentido, essa janela aberta. Fecha, fecha. Não pode ser mais. "Sinceramente fico feliz" só me deixa muito infeliz.

Essa janela do meu carro, que abre quando não deveria, essa luz da geladeira que acende quando tudo acabou. É esse não aguento, é esse monte de coisa. Esse monte de coisa que tenho controle nenhum.

Quero um mínimo de controle da minha vida, só do amor se possível, pois eu não acredito mais.

Da próxima vez que escutar um eu te amo mato, morro. Só irei escutar, sem ouvir. Não prestarei mais atenção, me farei de desentendido. Morrerei, acordarei. Levantarei e sairei andando, correndo pro fim do mundo, sem saber do mundo o fim. Fim.

Refúgio

Meu corpo refuga bebida
eu ponho pra dentro

Meu corpo assume mentiras
eu vivo

Minha vida aceita verdades
eu omito

Eu refugo o amor
meu corpo sente

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Fato 1

Se é pra estar lá, que eu não enxergue.
Se é pra ver, que seja breve.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

É toda essa inocência

"O que começa a realizar-se sem controle, discreto nos sorrisos e nos olhares, e nos pensamentos, e devagar. Ele chega e derruba tudo como um tsunami. Beijos molhados em seres desesperados.
Mas o que posso dizer, isso eu não sei."


(via isinha)