segunda-feira, 28 de junho de 2010

Sua

É a face nua,
a carne crua,
verdade sua.

Dos versos montes,
amores ternos,
deveras grandes.

No seu semblante,
da carne crua
mentiras nuas,
de outrora um instante.

Doravante.

domingo, 27 de junho de 2010

Estações

Mais um domingo típico, amor fraterno, espaço místico. Ar, que respirar cansou. 179cm de quilos indefinidos.

E a mim, me encantam os trocadilhos, os crocodilos, e os breves lampejos, e os finos trajes de algodão. Que me acompanham desde altas noites de inverno e dias longos de verão. Olhando o mar, a forca, a fina linha tênue entre o quinto, e o quarto, e o aspecto da vida.

Dos algoritmos lúdicos, os exemplos de somas, mais luxos mais pecados sujos e límpidos astutos. Mas, mas. Mais.

Contradições das ações que impedem os corações, de amores em ventos quentes, de quentes leitos de verão. De amores frios de invernos secos, de sangues quentes, palpitações. De coração. Dos corações enfermos, de luas grandes de emoção. Da sexta alvejada parte do corpo, do torto. Do tratado.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Caleidoscópio

Estou me acabando por você,
a toda hora me destruo e me refaço.
Quebro-me e não sei como me juntar,

Já fiz isso hoje.

Brinco com os verbos,
pulando nas linhas,
colando os cacos.

De forma psicodélica,
estou de volta,
diferente a cada instante.
Sou mutação ambulante de amor
E minha vida é prosa constante.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Cuida de mí

Eu parecia tão sob controle de mim.

Esta música espanhola me inspira o caminho físico à matriz. E como robozinho que apenas recebe ordens, fico confusa. Curto circuito, curtos pensamentos que se perdem no aço. Meu vidro capta você, identifica cada detalhe e te decodifica, como se já fizesse parte da máquina.

Minha física e química não me deixam ver o que é lógico. Lógico é você. De repente, sinto necessidade de me ver com outras verdades.

Vem, toque-me gelada, mudando, chorando flores de sentimento, que te toco sorrindo, quente e terrena. E eu, pobre robô escravo da tua presença, fico feliz. Senta ao meu lado e fala-me sobre nada, só preciso de tuas vibrações que se chocam em mim como ondas elétricas.

Repito, você é o lógico todo.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

5 quilometros em 100 metros

Nunca tive, nunca vou ter e adoro não ter controle sobre o meu carro.

Pareceria algo completamente estranho a primeira vista, mas é real. Meu carro tem sentimentos. Não desses que um individuo tem por si próprio, mas daqueles em que um imputa ao outro. Eu sei que então os sentimentos não seriam dele, poderia ainda afirmar que são meus, e sou eu quem os adiciona a ele. Mas eu estaria mentindo.

Meu carro parece perceber as coisas antes de mim, mesmo antes de eu me dar conta de algo meu carro avisa. Apresenta defeitos simples, defeitos esses que me incomodam, digo mais, defeitos esses que me irritam, me colocam em um estado pleno de ira no princípio, mas a medida que sou obrigado a conviver com eles, tudo começa a fazer algum sentido.

Um leitor de CD que só funciona quando estou de bom humor, ou ainda mais, janelas que emperram quando está na hora de deixar algo entrar, e hodometros que travam quando preciso me dar mais tempo pra entender o mundo. Meu mundo.

Tudo começou a um ano e meio, quando meu rádio tinha medo que eu ficasse deprimido, começou a se recusar a tocar CDs que não fossem originais, era um traço da minha personalidade que o rádio estava adquirindo? Só poderia estar louco. Mas era de fato isso, meu rádio a partir de então só toca álbuns originais. Meu respeito e valor a arte. Até aí tudo bem, simpatizei com ele.

Depois, minha janela travou exatamente no dia em que me apaixonara pela segunda vez. Fui obrigado a entender que não precisava ter medo de rodar por aí com ela semi aberta, que poderia deixar novos ares entrarem. Estava começando a gostar disso quando tudo desandou, a janela caiu de repente e não vedava mais, me deixei levar rápido demais. Fui obrigado a mandar consertar antes que alguma coisa mais séria acontecesse.

A janela ainda viria a "quebrar" várias vezes, sem o mínimo efeito ou eu ignorava, ou mandava consertar. Não era hora.

Agora era vez do leitor de CDs desandar de vez, só pra me mostrar que nem dentro do meu próprio carro eu posso garantir o controle de tudo. Por mais trancos que eu desse, mais jeitinhos inventasse, um dia ele tocava na hora, em outros demorava mais de 40 minutos pra me deixar ouvir o que queria. Quando não fazia birra de vez e me obrigava a escutar estações de rádio.

Foi então que meu velocímetro parou pela primeira vez, no meio da estrada. Marcava 0km mesmo eu estando a 120km por hora e novamente não adiantava eu brigar, enfezar, gritar ou esmurrar o volante. O marcador indicava o número que ele bem queria. Era hora de entender que eu tinha que desacelerar, por mais que eu amasse a vida em velocidade, meu carro estava mandando eu diminuir o ritmo. Isso se repetiu várias vezes nos meses seguintes, tinham dias ou mesmo semanas que ele funcionava normalmente, mas em outros nem sequer mexia o ponteiro.

Por último foi a vez do hodômetro, agora era ele que parava de marcar os quilômetros que rodávamos, fazia 5 quilômetros e marcava apenas 100 metros. Era meu carro me dando um pouco mais de tempo. Tempo que eu preciso e que agora eu aceito.

Isso tudo me serviu pra entender que eu não controlo nada, nem mesmo meu carro, que é um conjunto de metal, plástico e conduites eu consigo prever os atos. E todos os sentimentos são sim dele, mas são sentidos através de mim, de coisas que meu inconsciente me revela quando é hora. Por isso repito:

Nunca tive, nunca vou ter e adoro não ter controle sobre o meu carro.