quinta-feira, 31 de maio de 2012

Schrodinger Cat


Levanta pela quinta vez, abre a carteira e tira 11 reais, 3 notas de 2 e uma de cinco. Coloca no bolso de tras, esquerdo. Tosse pela terceira vez, na parte de tras da mao direita um pingo de sangue, pequeno, mas de sangue.

Desce os 38 degraus, puxa a porta usando a forca do corpo penso para tras, para e respira. Olha pro teto e respira de novo. Passa pela porta de vidro, alcanca o bolso, pega o dinheiro e no momento em que vai entregar a moca loira, desmaia. 

Acorda na sala do rh, deitado em 2 cadeiras enfileiradas, 3 pessoas olhando para o seu rosto. Fecha e abre o olho de novo. Sao 3 pessoas, 2 cadeiras e a sala do rh. 

Levanta pela sexta vez, ainda nao escuta nada, visao semi turva, balanca a cabeca com um "tudo bem" e sai da sala. Ninguem lhe segue.

Empurra a porta com o ombro, sobe 9 dos 38 degraus e cai, segura no corrimao inutilmente e cai. Deita no chao, vira de rosto pra cima e respira, e desfalece, lembrando de um sonho recorrente na semana.

Ceu limpo, mesas de piquenique antigas pintadas de branco, bancos da mesma cor e com o mesmo aspecto nos dois lados, conjuntos espalhadas por todo o gramado, lona cobrindo parcialmente, mas nao as laterais, como se fossem varios circos com palcos estranhamente pequenos. Continua andando, encontra um tigre branco amarrado num toco baixo, continua andando em sua direcao, sem vontade de desviar.

O tigre encara-o nos olhos e levanta calmamente a cabeca, puxa fortemente o ar com a boca entreaberta e solta o ar num so sopro, que produz um barulho parecido com um rugido. O homem nao desvia, mesmo com medo, sua mao vai em direcao a boca do animal. 

Ele acorda. 

Levanta rapido, arruma a camisa e sobe sem correr os outros 31 degraus, parando para respirar a cada 6 mais ou menos.  

O resto do dia acontece como num dia normal, 18 horas em ponto levanta pela ultima vez, fecha o computador, levanta cambaleando, apoia na mesa, respira e continua andando. Consegue alcancar o elevador que quase fechava a porta e aperta o botao do subsolo. 

O trajeto do 11 andar ate o subsolo leva o dobro do tempo normal, mas antes que ele pudesse pensar nisso sua visao turva novamente. O homem se apoia nas laterais do elevador com uma das maos e com a outra protege a boca e tosse novamente, agora na parte de tras da mao esquerda uma gota de sangue, maior que o pingo anterior. Leva a mao ao nariz e limpa mais o que achava ser algo sujo, mas era seu sangue.

Passa pela porta de vidro do subsolo e entra no carro, fecha a porta, respira ofegante por 2 minutos, se acalma e gira a ignicao. Pe na embreagem com cuidado, engata a primeira marcha e acelera aos poucos. Ao soltar o pe da embreagem sua respiracao volta ao normal.

Planeja fazer todo o caminho ate sua casa ao telefone, varias pessoas diferentes, pois assim, se passar mal na direcao consegue avisar alguem antes de desfalecer. Mas subitamente a ligacao cai, e seu celular fica sem rede. Um rapido momento de panico que nao culmina em nada. Consegue dirigir ate o destino sem problemas, apenas uma leve tristeza. 

Estaciona o carro na garagem mais calmo, menos triste e com um som alto no radio. Entra no elevador pensando em nada, abre a porta do apartamento e como de costume retira tudo do bolso, deposita simetricamente na bancada e vai ao banheiro.

Ao abaixar as calcas pensa em varias coisas diferentes, trabalho, amigos e musica. Terminando o que havia comecado a fazer, vai se limpar. Mas no papel enrolado e amassado ao inves do esperado encontra mais cor vermelha.

Nao consegue imaginar o que seria se nao sangue.

Sem desespero e com um auto controle desconhecido se limpa e levanta.  Encara seu rosto no espelho e percebe na narina direita uma mancha vermelha. Se aproxima um pouco mais, olhando nos proprios olhos e percebe seu coracao parar lentamente.

Respira pela ultima vez e se deita. Calmamente suas narinas liberam sangue suficiente para cobrir com uma fina camada todo o piso do banheiro. 

Sua cabeca pensa por mais 7 minutos. Ele nao sabe se esta dormindo.

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